segunda-feira, 23 de junho de 2008

IGNASI ABALLÍ


Ignasi Aballí (Barcelona, 1958) é um dos mais destacados artistas espanhóis contemporâneos, tendo nos últimos anos realizado importantes mostras individuais no Museo de Arte Contemporâneo de Barcelona, no Museo Nacional centro de Arte Reina Sofía (Madrid) e no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Participou também na 52ª Bienal de Veneza. No trabalho de Ignasi Aballí é possível constatar uma contínua reflexão sobre os materiais e processos de criação artística, com especial incidência na pintura e na fotografia, que são protagonizados tanto como meios mas também como conceitos e paradigmas artísticos. A sua obra convoca questões relativas à simulação, à especificidade dos modos de representação, às convenções da ilusão material e aos aspectos do social, subjacentes a todo o processo produtivo, como há também uma significativa acuidade sobre a ideia do tempo como agente construtor da materialidade do discurso artístico. Esta exposição no Museu de Portimão faz parte do programa oficial da edição de 2008 de PhotoEspaña, e tem o título de Sem Actividade. O título tem origem na história do edifício que acolhe a exposição, que anteriormente era um fábrica de conservas. Durante o período da mostra, Ignasi Aballí irá também expor a sua câmara fotográfica. Quer isto dizer, que no decurso da exposição a sua câmara torna-se num objecto museográfico, e a sua inactividade fotográfica concorre com o desaparecimento da actividade fabril que anteriormente caracterizava este espaço. Além disso, este intervalo de suspensão produtiva é uma forma de glosar a sua participação num evento (PhotoEspaña) que privilegia as práticas fotográficas. Além da sua câmara, Ignasi Aballí apresenta outras 2 séries, Luz (Ventanas), de 1993, e Manipulaciones, de 2008. Luz (Ventanas) é constituída por um conjunto de 7 grandes painéis feitos de cartão, que representam de forma exacta as janelas do atelier do artista em Barcelona. Estes painéis têm a particularidade de se deteriorarem quando expostos à luz, fenómeno que só se verifica quando Aballí os apresenta em exposições. A sua situação é pois paradoxal e desconcertante: as imagens vão-se esfumando à medida que são vistas publicamente. Quanto a Manipulaciones é uma obra inédita, em que vemos vários pares de mãos a realizar diferentes operações a aparelhos fotográficos. O artista limitou-se a seleccionar e a reenquadrar uma série de fotografias encontradas numa enciclopédia dos anos de 1980 que ensina os rudimentos da técnica fotográfica. São imagens claras e nítidas (planos frontais, iluminação neutra, tentativa de naturalismo na paleta cromática), mas que não nos garantem de que estejamos a ser informados, a saber mais, a ver mais. O fascínio desta série, a sua quase perversidade, passa justamente pela promessa de informação, nunca realizada. Não admira, já que Ignasi Aballí é um dos artistas que mais tem explorado o carácter mudo da fotografia; como tem relacionado aparentes opostos, mostrando que afinal hiper-visibilidade e absoluta miopia se podem equivaler. A singularidade do seu trabalho, o seu labor eminentemente político, destaca-se, é evidente, numa altura em que a maioria dos regimes visuais equiparam ser espectador a ver tudo, ver tudo nitidamente, de todos os ângulos.

Entre 15 de Junho e 7 de Setembro no Museu de Portimão.

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